A Liturgia nas Novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil

A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil publicou este ano as novas Diretrizes Gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil. Estas são fruto do encontro da caminhada da Igreja no Brasil e nossa realidade com o Documento de Aparecida e o Magistério do Papa Francisco, suas pregações palavras e documentos.

Foi feita uma reestruturação geral das Diretrizes dando uma enfase a dois eixos condutores do planejamento da evangelização no brasil: a vida em comunidade e a vivência missionária. A comunidade foi apresentada com a metáfora da casa lugar de chegada, acolhida, convivência fraterna e lugar onde se vive a missão e se parte para a vivência missionária.

A Igreja é convidada a se organizar em comunidades que tenham o compromisso de viver como Casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária.  Estes quatro pilares sustentam a cassa. 

Estas comunidades-casas serão espaços de encontro, de ternura e de solidariedade; serão lugar da família e têm suas portas abertas. Este será um sinal profético num mundo de individualismo, de comunicações virtualizadas, de violência... Não é lugar de teorizações ou de reuniões para organizar e manter estruturas, mas,  lugar de aprofundar relações fraternas.

Viver como comunidade que é uma cassa da acolhida e ternura, sendo missionário, iluminados pela palavra, partindo o pão e praticando a caridade é um grande desafio pelo meio em que os cristãos inseridos, principalmente, por causa da cultura urbana. Esta cultura urbana não está eduzida às cidades mas alcança até os lugares mais distantes,

A resposta da Igreja a esse desafio é fazer com que as comunidades sejam lugar do encontro, da ternura, da vivência familiar, um lugar onde sempre se pode entrar para ser acolhido e sair para testemunhar a vivencia evangélica. Essa casa é um "lar" tanto na perspectiva pessoal quanto comunitária, social e ambiental.

Esse lugar de acolhida e ternura, então é sustentado pela Palavra que consiste na Iniciação à vida Cristã e na Animação Bíblica da vida e da pastoral. Sustentado pelo Pão, no sentido da espiritualidade e da vivência litúrgica. Sustentado pela caridade que é o serviço a vida plena para todas e todos. E sustentada pela ação missionária, pela resposta ao mandato do Senhor de levar seu amor a toda a humanidade.

Nestas novas diretrizes a Liturgia recebeu uma atenção especial, juntamente com a espiritualidade foi reconhecida como um pilar que sustenta a casa-comunidade, o pilar do Pão. O relato das primeiras comunidades é o texto inspirador: "eram perseverantes... na fração do pão e nas orações" At 2,42)

Ao abordar a ação evangelizadora relacionada aos pilares as DGAE usam os dois eixos que mencionamos acima, a comunidade e a missão. Primeiramente, como a Comunidade-Casa é sustentada pelos pilares e depois como estes pilares são vivenciados missionariamente.

Igreja nas casas

A Eucaristia era o lugar e o momento onde os cristãos expressavam sua comunhão celebrando a Ceia Pascal do Senhor.  É a Eucaristia que fortalece os discípulos missionários e faz deles testemunhas do Evangelho do Reino.

Para perseverar no seguimento do Senhor, os Discípulos Missionários sustentam sua comunidade a partir da Palavra de Deus na sua oração. O Espírito de Deus age nos Discípulos missionários para que como Jesus possam também entregar-se ao Pai, tornando-se colaboradores da missão salvífica de Jesus.

A pausa restauradora da Oração, da Eucaristia, da liturgia é o momento de permitir que o Espírito socorra os discípulos missionários de seus interesses próprios e de suas ideologias e modos de ver o mundo. As Diretrizes salientam que o agir não substitui a oração. As reuniões, planejamentos e todas as atividades da igreja devem partir da Liturgia e da Espiritualidade. 

A Liturgia é o lugar para onde vamos com nossas ações e vivências e de onde partimos para a vivência missionária e a vida no mundo. Sem uma espiritualidade litúrgica autêntica corre-se o risco de cair no ativismo, na vaidade, ambição e desejo de poder. E o pior de tudo de se tornar "funcionário do Sagrado".

As diretrizes lembram que "O Senhor deseja uma igreja servidora, samaritana, pobre com os pobres. composta de pessoas disponíveis a sair de si mesmos a ir ao encontro com os outros. Isso só é possível se há uma espiritualidade entranhada nas ações e se existem os momentos de vivencia da liturgia, principalmente no encontro com o Senhor na escuta da Palavra e na Celebração da Eucaristia.

As diretrizes fazem uma admoestação para que a piedade popular seja valorizada na pureza de suas expressões. E que se faça tudo para que não seja instrumentalizada pelo intimismo, consumismo e imediatismo.

A Igreja como comunidade que é casa de ternura e acolhida é também o lugar onde se celebra a misericórdia e perdão que vem do Pai. Formada por imperfeitos, essa casa é lugar da experiência da misericórdia. Formados no amor do Pai os Discípulos missionários tornam-se embaixadores da misericórdia.

Igreja em missão

Se por um lado a comunidade é lugar da acolhida, da partilha do Pão e da Palavra, por outro lado é dela que partem os discípulos missionários para fazer o amor e a misericórdia conhecidos.

A vida cristã não pode existir sem a Palavra e a Eucaristia. E estas são vivenciadas na liturgia. A liturgia é o coração da comunidade. É por meio da liturgia que o Pai expressa sua Palavra aos Discípulos; por meio dela, alimenta-os com a Eucaristia, une, consola, cura e manifesta sua misericórdia.

Celebrar o Dia do Senhor, seja com a Palavra ou com a Eucaristia é o ponto alto da vivência cristã. A família cristã se encontra com o senhor, fortalecendo os laços fraternos e motivando o compromisso missionário. O Domingo é dia da alegria, do repouso, da solidariedade e alteridade.

As diretrizes motivam para que tanto o subjetivismo emotivo e intimismos quanto a frieza da rigidez rubricista e ritualistas sejam evitados. As celebrações devem ser comunitárias. Devem levar à experiência do Mistério Divino e ao agir evangelizador aqui e agora neste momento histórico onde o Reino de Deus precisa mostrar seus sinais.

Encaminhamentos Práticos

Para terminar, as citamos algumas ações e modos de organizar a ação missionária das novas DGAE que ajudam a valorizar dinamizar o pilar do Pão, a Liturgia e a espiritualidade: 
 *  Resgatar o domingo como Dia do Senhor, com celebração da Eucaristia ou da Palavra de Deus, com diáconos ou ministros devidamente preparados para tal; (164-165)
* Incentivar a piedade popular como caminho de aprofundamento da fé; seja iluminada com a Palavra de Deus e as orientações da Igreja; (166)
* Valorizar o canto litúrgico e o espaço sagrado; (167)
* Respeite-se o Ano Litúrgico e evite-se celebrações de interesse individual; (168)
* As homilias sejam qualificadas e liguem a liturgia à existência e à vida comunitária e social; (169)
* As missas nos meios de comunicação estejam em conformidade com as normas litúrgicas e as orientações da CNBB (170)



As DGAE e a Liturgia - Parte I Planejamento

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019 e a Liturgia

Parte 1 Planejamento e vida litúrgica

Na última Assembléia da CNBB foi aprovada a revisão das DGAE. Alguns capítulos foram reescritos, outros apenas reorganizados, mas, o que fica muito claro é o desejo da Igreja no Brasil de acompanhar o impulso que o Papa Francisco tem dado para a construção de uma Igreja em estado permanente de missão, uma igreja em saída, renovando as estruturas e sendo sinal da presença de Cristo, principalmente, nas periferias existenciais.
Neste contexto de adaptação e aprofundamento do caminho que a Igreja no Brasil já vem trilhando faremos alguns apontamentos no que diz respeito à espiritualidade pastoral e litúrgica a partir das linhas gerais das novas DGAE.
Para começar vamos ao final do texto das DGAE onde encontramos uma chave de leitura e chamada de atenção para o sentido da Ação Evangelizadora. Todos sabemos a necessidade de aprofundar nossas capacidades técnicas em termos de planejar nossas ações, traçar caminhos e estipular metas no que diz respeito à ação evangelizadora. 
Esta é uma problemática que salta aos nossos olhos quando vemos nossos esforços de evangelização não resultarem em um aprofundamento da vida cristã, ou numa maior aproximação das pessoas com Jesus Cristo, e, mesmo numa reaproximação com a comunidade de fé. Freqüentemente, nosso modo de agir peca pela falta de planejamento, de construção de um projeto que tenha metas claras e estipule estratégias simples e factíveis.
Mas, por outro lado, corremos o risco de imaginar nossa ação evangelizadora como algo parecido com a administração de uma empresa ou com a execução de algum projeto de marketing com um viés religioso.
Essa é a grande chamada de atenção no final do texto das DGAE, é preciso lembrar que o planejamento pastoral deve fazer uso de todas as técnicas disponíveis que nos ajudem a avançar na ação de Evangelizar. No entanto, o planejamento pastoral não se limita a um processo técnico. O planejamento pastoral, por lidar com a ação de Evangelizar, é, por isso mesmo, uma ação carregada de sentido espiritual. Como bem sabemos, é o Espírito que governa a Igreja, por isso, é preciso aprender a equilibrar a necessidade de aperfeiçoar a nossa capacidade técnica com a docilidade ao Espírito de Deus.
Buscar este equilíbrio é o que impede que a Igreja não vá aos extremos, tanto do puro ativismo quanto da acomodação. É urgente superar as estruturas arcaicas, como vinha apontando o Documento de Aparecida e como confirma o Papa Francisco convidando-nos a sair da pastoral da manutenção. Segundo as DGAE, para encontrar o equilíbrio, é preciso que todo o processo de planejamento seja rezado, celebrado de transformado em louvor a Deus. 
Em relação à vida e a vivência litúrgica na igreja nada é diferente. É sempre urgente a necessidade de aprofundar, além do conhecimento e da experiência litúrgica é preciso investir no desenvolvimento de capacidades técnicas para saber planejar, traçar caminhos e estipular metas.
Em relação à espiritualidade litúrgica de uma comunidade é importante que se descubra com clareza quais são as maiores necessidades, seja de conhecimento ou de vivência da liturgia. A partir deste diagnóstico a Pastoral Litúrgica deve estipular as metas a serem alcançadas. 
Com metas claras faz-se o planejamento das ações. Estas ações na espiritualidade litúrgica tem há ver tanto com a formação e vivência quanto com o trabalho de preparar executar e vivenciar os ritos, festas e celebrações no decorrer do ano litúrgico.
Este planejamento é direcionado pelo desejo profundo de que as vivências litúrgicas da comunidade levem a um verdadeiro aprofundamento da vida cristã, uma aproximação com a pessoa de Jesus Cristo e uma maior integração na vida da comunidade.
Por estes mesmos motivos o planejamento da vida litúrgica não se reduz a um processo técnico, mas é um percurso carregado de sentido espiritual no qual a comunidade deixa-se conduzir pela força do Espírito Santo a fim de tornar-se cada vez mais uma comunidade de discípulos missionários alimentados pela vivência da liturgia. 
Assim, também, no planejamento litúrgico da vida da comunidade deve-se equilibrar a necessidade de aperfeiçoamento e uso das capacidades técnicas com a docilidade ao Espírito Santo.
Que nossas comunidades possam encontrar equilíbrio na sua espiritualidade litúrgica fugindo tanto do puro ativismo quanto da acomodação.

Liturgia: espiritualidade do cristão

Liturgia: espiritualidade do cristão

“A liturgia é a fonte primeira e indispensável mediante a qual os fiéis podem atingir o genuíno Espírito Cristão.” É o que diz o número 14 da Sacrossanto Concilium. Esta frase é a resposta a uma pergunta que se poderia fazer a qualquer membro da Igreja: qual é a sua espiritualidade?
O modo de se viver segundo o Espírito de Cristo dá-se pela experiência de fé na liturgia, pois, é nela que o cristão ouve a Palavra, relê a própria vida à luz da Palavra, alimenta-se da Eucaristia, exercita a caridade e a partilha e é enviado de volta para a vida e a missão.
O que garante uma espiritualidade litúrgica fiel ao Espírito Cristão? Uma liturgia viva e encarnada, participativa, ativa e consciente, eclesial e comunitária, centrada no Mistério Pascal de Cristo que é o centro do Projeto do Pai.
Uma liturgia viva e encarnada é aquela que está baseada na realidade de quem celebra. Não é um acessório, nem uma fuga, mas a celebração da vida. Uma liturgia morta é aquela baseada apenas numa ritualidade estéril, apenas a repetição quase ‘mágica’ de um rito sem ligação com a vida concreta de quem celebra.
Liturgia viva e encarnada é aquela que é continuação da vida, lugar para onde vai a vida; é aquela de onde parte a vivência cristã. Cume para onde se direciona e fonte de onde jorra a Graça de Deus.
Uma liturgia participativa, ativa e consciente é aquela em que todos se reconhecem como membros ativos em tudo o que acontece. Participar, tomar parte é mais do que observar, assistir. É assumir uma parte do todo que é feito. Ser ativo na liturgia significa tomar iniciativa, assumir o próprio batismo exercendo algum ministério, estando em comunhão com o que acontece na ação litúrgica.
Estar consciente é saber o que está acontecendo, saber-se membro vivo do Corpo de Cristo. Pressupõe deixar a comodidade, a passividade e, principalmente, a indiferença.
Não há espírito Cristão se não existe uma fé essencialmente eclesial e comunitária. A Fé cristã surge exclusivamente da experiência de vida dentro da igreja, comunidade. Nos textos bíblicos o exemplo mais conhecido é de Tomé, que só consegue perceber a presença viva do Cristo Ressuscitado quando ele está reunido com a comunidade.
A Espiritualidade Litúrgica é o oposto da espiritualdiade intimista, subjetivista, imediatista. O espírito Cristão está onde dois ou mais estão reunidos, ou seja, onde há comunidade, Igreja.
Enfim, o centro da vivência espiritual cristã é o Mistério do Cristo que:
·         vive segundo a vontade do Pai, para dar cumprimento a tudo o que ele anunciou pela Palavra revelada,
·         entrega-se como novo cordeiro pascal, que leva sobre si toda e qualquer peso morrendo na cruz;
·         ressuscita, para trazer vida nova a todos aqueles que desejam lavar suas vestes no sangue do cordeiro.
O Mistério de Cristo, sua vida, paixão, morte e ressurreição, é o centro da espiritualidade cristã. É o modelo para a vida e a existência de todos os cristãos.


Na liturgia encontramos a fonte da espiritualidade genuinamente cristã. Celebrar está intimamente ligado à vida humana. Significa olhar para traz e reconhecer tudo o que aconteceu; olhar para frente e conseguir alimento e sustento para continuar a caminhada. Na liturgia viva e encarnada, participativa, ativa e consciente, eclesial e comunitária, vivemos o Mistério de Cristo e confirmamos nosso desejo de que o Reino de Deus cresça cada vez mais na nossa vida.

A Igreja e os Sacramentos



Neste breve artigo vamos apontar algumas características da relação entre a Igreja, Povo convocado por Deus, e os Sacramentos, sinais eficazes da Salvação de Cristo. Para iniciarmos vamos citar o sermão 74,2 de São Leão Magno: “Aquilo que era visível em nosso Salvador passou para seus Mistérios”.
Toda a graça e a força salvadora que se manifestava nas palavras e ações de Jesus, pela autoridade confiada à sua Igreja, se faz presente nos sacramentos. A Igreja torna-se sinal da presença do próprio Cristo, pois, Ele mesmo age pelos sacramentos fazendo com que a Salvação chegue a todos.
O documento Sacrossanto Concilium no número 59 descreve claramente a destinação dos sacramentos:  “destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda, ao culto a ser prestado a Deus”.

1)                      Santificação dos homens, por meio dos sacramentos Deus se faz presente na vida humana, iluminando cada etapa, cada situação com sua graça, com a força redentora de Cristo. A santificação acontece pela confirmação da filiação divina de todos os que se aproximam da Igreja de Cristo e recebem os sacramentos. Estes são adotados como Filhos de Deus Pai. Pelos sacramentos, os fiéis são associados à vida-paixão-morte-ressurreição de Jesus, e no seguimento do mestre aperfeiçoam suas vidas na busca da santidade, lavando suas vestes no sangue do Cordeiro. Pelos sacramentos, a graça santificante, pela ação do Espírito Santo, preenche, consagra todo o ser dos fiéis a fim de que sejam santos como o Pai é Santo e se dirijam ao Reino de Deus.
2)                      Edificação do Corpo de Cristo. Pelos sacramentos os fiéis são inseridos no Corpo Místico de Cristo. Ligados a Ele como “os ramos estão ligados à videira” podem receber diretamente sua graça, podem participar da sua ação como Igreja e no mundo. Por meio de palavras, ações e gestos os sacramentos que chegam pela confirmação da fé, alimentam esta mesma fé com a graça de Deus, fortalece o vínculo de união entre os chamados, entre os membros do Corpo de Cristo, e exprimem concretamente a mesma fé. Como membros do corpo de Cristo o povo que celebra os Sacramentos torna-se povo sacerdotal. Unidos a Cristo, único e eterno Sumo Sacerdote aprofundam a consciência de que é o próprio Deus quem toma a iniciativa de constituí-lo em Assembléia da nova e eterna Aliança.
3)                      Culto a ser prestado a Deus. Os sacramentos são a expressão do reconhecimento e do louvor do Povo de Deus que se volta ao Criador inspirado pelo Espírito Santo e agindo no Cristo para render-lhe graças pelas suas ações e pela sua misericórdia. Nos sacramentos a Igreja como Corpo de Cristo descobre-se sacerdotal pois nela age o único Sumo sacerdote e verdadeiro Santuário, Jesus Cristo. Nos sacramentos é o Cristo mesmo que se oferece e é oferecido ao Pai pela humanidade e por toda a criação. Ao mesmo tempo Ele se doa e é dado como sacrifício, sendo ele mesmo o Altar e o Cordeiro.

Por causa desta destinação dos sacramentos, de configurar seu Povo ao Cristo, na santificação, união no Seu Corpo e Culto ao Pai, os sacramentos comunicam a Graça de Deus e ao mesmo tempo exigem comunhão com a Igreja, e responsabilidade para com a construção do Reino de Deus.
Os sacramentos são para a Igreja, fazem com que Ela exista. Santificando, unindo e direcionando ao Pai, os sacramentos fazem da igreja imagem antecipada da Igreja do Céu. O catecismo da Igreja católica diz no número 1144 que a “Assembléia reunida é a primeira realidade visível da Liturgia Cristã”.
Por outro lado os sacramentos são da Igreja, acontecem por meio dela. A Salvação que vem pela Páscoa do Senhor chega a todos pela celebração dos Sacramentos na Igreja. A própria Igreja é o sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças à missão do Espírito Santo. Na celebração da Igreja, “o Sacramento é sinal rememorativo do que já aconteceu, a paixão de Cristo; demonstrativo do que a Paixão realiza e nós e pronunciativo da glória futura” (S Tomas, S Theologica III,60,3). Pelos sacramentos dignamente celebrados é conferida a graça que eles significam. Jesus instituiu a sua Igreja como mediadora da sua ação Salvifica nos sacramentos.

Enfim, os frutos da vida sacramental não são apenas pessoais. Deus não apenas dispensa sua graça sobre cada um mas, o faz pela Igreja, na Igreja e para a Igreja. Como foi dito os Sacramentos não só santificam cada fiel, mas, os incorpora ao Corpo Místico de Cristo e os torna aptos a render o louvor e a ação de graças como parte do povo eleito.
Ao serem saciados pelos sacramentos pascais os fieis são convocados a serem concordes na piedade, a conservar a renovação da Aliança do Senhor com a humanidade e a se empenharem no cuidado para com aqueles que sofrem exercendo copiosamente a Caridade de Cristo. Como presença viva da missão do Ressuscitado em nós, os sacramentos trazem ao hoje da nossa vida e anunciam ao mundo o evangelho: ‘Jesus ressuscitou e esta presente, vivo na Igreja e no Mundo’.

Ser Cristão!

Ser cristão significa receber ter a Sagrada Liturgia como a primeira e necessária fonte da vida cristã. É a liturgia, celebração do Mistério Pascal de  Cristo que alimenta a vida cristã, pela Sagrada Liturgia o cristão recebe a Palavra de Deus, alimenta-se do Corpo e Sangue de Cristo participando da atualização do seu sacrifício.
Não é possível ser Cristão sem participar da vida litúrgica da comunidade cristã. Na liturgia acontece o grande encontro entre Deus e a pessoa humana. Não é sem motivos que a assembléia é chamada de Corpo Místico de Cristo, pois assim como um membro precisa estar unido ao corpo para receber o sangue, oxigênio e alimento para viver, respirar e ter força; também cada cristão deve unir-se ao Corpo Místico de Cristo para receber a vida que nasce do sacrifício do Cordeiro, seu sangue; receber o sopro vivificador do espírito Santo; e o alimento da Eucaristia.
Ser Cristão é ter ouvidos, coração e mente atentos para ouvir e entender o que Deus diz. É na liturgia que Ele mesmo se dirige ao fiel quando se lêem as Sagradas Escrituras, quando, como no caminho de Emaús estas mesmas são explicadas em relação à vida de cada  um. Na liturgia temos a oportunidade de falar diretamente ao coração de Deus, expressando nosso louvor e gratidão, colocando em suas mãos nossas dores, angústias e sofrimentos.
A liturgia é o coração e a alma do discipulado. Pois como diz a Sacrossanto Concilium, “a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde emana toda a sua força.” A liturgia fornece a ‘pausa restauradora’ na caminhada rumo ao Reino Definitivo. E ao mesmo tempo é a fonte para o fortalecimento da ação missionária da Igreja.
Os sacramentos são a expressão maior da Liturgia, pois eles são a celebração do Mistério Pascal de Cristo. A graça e a presença de Deus que eram visíveis no Cristo, após a sua paixão morte e ressurreição tornou-se visível nos sacramentos. É nesse sentido que podemos dizer que celebramos os sacramentos, que vivemos e experimentamos o Mistério. Não é apenas algo que se recebe ou que é administrado, mas algo que toma e toca todo o nosso ser.
No batismo a filiação divina se confirma, pois, pela entrega de Jesus Deus adotou e redimiu toda a humanidade. Jesus, Filho amado de Deus, apresenta ao Pai todos aqueles que recebeu e que não deixou que se perdessem. No Sacramento do Batismo se faz memória do Mistério Pascal, pois, como o Cristo passa pela morte e tem vida nova, o cristão passando pelas águas batismais renasce para uma vida nova em Cristo, iluminado pela sua Luz, ungido com os dons do Santo Espírito, adotado como filho amado pelo Pai.
A porta de entrada para a Nova Aliança é o sacramento do batismo. Por ele nos tornamos cristãos. Renascidos pela água e pelo Espírito passamos a compor o Corpo Místico de Cristo. Como Cristo, morremos para o mundo e inseridos no seu Corpo, nos tornamos Luz do mundo e Sal da terra.
Na unção do Crisma, nosso corpo é confirmado como Templo do Espírito Santo. Assinalados com a santa unção ficamos marcados para sempre como aqueles que buscam encontrar-se com Deus, viver e manifestar sua presença no nosso meio. Ao revestir-nos do Cristo a sagrada unção nos torna aptos a testemunharmos seu amor, buscando fazer as mesmas coisas que ele fez.
A Eucaristia é o alimento nesta vida na caminhada para a vida eterna do Cristão. É o sacramento primordial, pois, nele o Mistério do Cordeiro é de tal forma celebrado que ele se torna alimento real, verdadeiro para esta vida e a vida eterna.
O centro da vida cristã é a celebração do Sacramento da Eucaristia. Pois nele se faz memória do Sacrifício de Cristo. Este torna-se atual, presente em nossa vida. Não é possível viver como cristão sem se alimentar do Corpo e Sangue de Cristo, sem participar deste mistério.
Além disso, a Eucaristia é que faz a Igreja. É o sacramento da unidade. Neste sacramento nos assentamos com Cristo para que juntos, na mesma mesa possamos contar nossas alegrias, e sofrimentos e mais ainda, nos alimentar para a caminhada cotidiana.
A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: « Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo » (Mt 28, 20); mas, na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. (Ecclesia de Eucharistia1)
“Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas as outras obras da Igreja.” (Sacrossanto Concilium 10)

Vamos encerrar com a oração de São Tomás, citada pelo Papa João Paulo II na encíclica Ecclesia de Eucharistia:

« Bom Pastor, pão da verdade,
Tende de nós piedade,
Conservai-nos na unidade,
Extingui nossa orfandade
E conduzi-nos ao Pai.

Aos mortais dando comida
Dais também o pão da vida:
Que a família assim nutrida
Seja um dia reunida

Aos convivas lá do Céu ».

Onde celebramos?

Mais uma vez vamos nos encontrar para conversar brevemente sobre a Sagrada Liturgia. Vamos falar de onde se celebra, e indicar algumas características mais visíveis da igreja enquanto templo, lugar do culto cristão.

Antes de iniciarmos rezemos: Ó Deus, que edificais o vosso templo eterno com pedras vivas e escolhidas, infundi na vossa Igreja o Espírito que lhe destes, para que o vosso povo cresça sempre mais construindo a Jerusalém celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

A igreja-templo é o lugar próprio da celebração da Sagrada Liturgia. Tem diversas características:, é ‘sinal da presença de Deus e da Igreja no mundo’; ‘lugar da acolhida e do diálogo sincero’; lugar do encontro entre Deus e Seu povo, e das pessoas entre si’; ‘lugar da festa e alegria, onde celebra-se o Mistério Pascal de Cristo’.

A igreja é sinal da presença de Deus. Representa concretamente a morada de Deus no meio do seu povo. Deus que quis mostrar-se próximo pela vida de Jesus, permanece junto do seu povo. Jesus consola sua Igreja dizendo “eis que estarei com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20).

A presença da igreja-templo é um modo de que o Povo de Deus dispõe para glorificar a Deus, é expressão do reconhecimento dessa presença que eleva e santifica o homem. No número 7 da Sacrossanto Concilium lemos:  “Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. (...) Em tão grande obra, que permite que Deus seja perfeitamente glorificado e que os homens se santifiquem, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai.” Assim, a igreja-templo tem seu papel no cumprimento das funções da Sagrada Liturgia de glorificar a Deus e Santificar as pessoas.

Este sinal da presença de Deus não atinge apenas os fiéis. Chega a todas as pessoas que vivem ou que passam pela região onde está a igreja. O próprio Jesus dizia: “Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte.  Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa.  Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu.” (Mt 5, 14-16)

A presença da igreja-templo é um modo de fazer a Luz de Deus chegar a todas as pessoas, mesmo àquelas que não se dispuseram a responder o chamado do Senhor. É também um forte testemunho, lembrança de que Deus deseja que haja justiça no meio do seu povo. Pela Sagrada Liturgia realizada na igreja, Cristo age como sacerdote, elevando a humanidade a Deus e dispensando os dons de Deus para o seu povo através do seu corpo Místico. A igreja é o lugar onde o Corpo Místico de Cristo se faz visível onde o presidente da celebração age como o Cristo Cabeça e a assembléia como seu Corpo.

Como lugar onde a ação do Corpo Místico de Cristo se mostra visível, a igreja é lugar da acolhida e do diálogo sincero. Como casa de Deus é também casa de seus filhos adotivos. Ir à igreja torna-se então como voltar à casa do Pai, voltar ao seu abraço acolhedor. Neste lugar acontece o encontro dos filhos com o Pai e dos filhos entre si. As duas dimensões da liturgia se realizam na igreja, a vertical, o ser humano busca a Deus e o encontra, sente-se acolhido, sente-se em casa; e Deus que chama, recebe aqueles que ele escolheu e concede-lhes Sua Graça e Sua Benção. A dimensão horizontal da liturgia realiza-se no encontro fraterno entre os irmãos, entre os membros do corpo de Cristo.

Por isso a igreja, torna-se lugar da realização da comunhão. Comunhão de Deus com seu povo e comunhão do povo entre si como Igreja Militante, que caminha rumo ao Reino do  Senhor. Na igreja, este povo que busca apoiar-se mutuamente para continuar caminhando, é animado pela Palavra de Deus, alimentado pela Sagrada Eucaristia, ungido com o óleo da proteção e santificação, volta ao caminho e é perdoado de seus pecados. Alimentado, fortalecido o Povo de Deus pode voltar à caminhada do dia-a-dia manifestando a presença do Senhor.

A igreja templo é lugar da festa e da alegria. É lugar da celebração do Mistério Pascal que é atualizado em cada celebração. É o próprio Cristo que rompe as barreiras da morte, faz desaparecer as trevas do mal e da injustiça. Essa é a grade alegria e a grande festa, o Mistério Pascal torna-se presente no nosso tempo, na nossa vida. A igreja-templo é o lugar da ‘pausa restauradora na caminhada rumo ao céu’, pausa na qual a vida-paixão-morte-ressurreição de Jesus promove a união com Deus e com os irmãos. Ao festejar a maravilha da redenção, o que celebramos torna-se pauta para o que vamos viver. A festa da ressurreição ilumina o caminho e nos faz caminhar juntos construindo o Reino já aqui, em direção ao Reino definitivo.

Como novo Povo de Deus nossa vida de fé também se faz como uma caminhada. Caminhamos ao encontro do Senhor.  Assim, ir à igreja-templo é símbolo da caminhada que fazemos no nosso dia-a-dia, “também sou teu Povo, Senhor, estou nesta estrada, cada dia mais perto, da terra esperada”.

Ir à igreja, caminhar até ela, torna-se, também uma experiência de fé, é uma forma de expressar nossa busca pela presença de Deus. Canta o salmista: “Que alegria quando ouvi que me disseram  vamos à casa do Senhor. E agora nossos pés já se detêm,  Jerusalém, em tuas portas. (Salmo 122, 1-2)”. Como é bom avistar de longe as portas abertas, chegar à igreja, sentir-se acolhido por Deus e pelos irmãos.

As portas abertas representam o sinal de que este é um Lugar onde não há restrição para a entrada. Lugar onde todos podem entrar e se colocar na presença de Deus. Quando peregrino em um lugar desconhecido não há nada melhor do que encontrar as portas abertas de uma igreja, sentar por ali, conversar com Deus, refazer-se do cansaço, observar as paredes, pinturas, imagens, presbitério, ver como as pessoas entram, caminham, sentem-se em casa.

Para terminar convido você a recitar o Salmo 83(84):
 (se quiser ouvir clique aqui)

–2 Quão amável, ó Senhor, é vossa casa, *
† quanto a amo, Senhor Deus do universo!
–3 Minha alma desfalece de saudades *
e anseia pelos átrios do Senhor!
– Meu coração e minha carne rejubilam *
e exultam de alegria no Deus vivo!

=4 Mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa, †
e a andorinha ali prepara o seu ninho, *
para nele seus filhotes colocar:
– vossos altares, ó Senhor Deus do universo! *
vossos altares, ó meu Rei e meu Senhor!

–5 Felizes os que habitam vossa casa; *
para sempre haverão de vos louvar!
–6 Felizes os que em vós têm sua força, *
e se decidem a partir quais peregrinos!

=7 Quando passam pelo vale da aridez, †
o transformam numa fonte borbulhante, *
pois a chuva o vestirá com suas bênçãos.
–8 Caminharão com um ardor sempre crescente *
e hão de ver o Deus dos deuses em Sião.

–9 Deus do universo, escutai minha oração! *
Inclinai, Deus de Jacó, o vosso ouvido!
–10 Olhai, ó Deus, que sois a nossa proteção, *
vede a face do eleito, vosso Ungido!

–11 Na verdade, um só dia em vosso templo *
vale mais do que milhares fora dele!
– Prefiro estar no limiar de vossa casa, *
a hospedar-me na mansão dos pecadores!
–12 O Senhor Deus é como um sol, é um escudo, *
e largamente distribui a graça e a glória.
– O Senhor nunca recusa bem algum *
àqueles que caminham na justiça.
–13 Ó Senhor, Deus poderoso do universo, *
feliz quem põe em vós sua esperança!

 – Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *

Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Que povo é esse?

Que povo é esse?

Vamos iniciar rezando: “Inspirai, Senhor, as nossas ações e ajudai-nos a realizá-las, para que em vós comece e termine tudo aquilo que fizermos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.”

No último artigo falamos do termo Liturgia que vem de duas palavras que significam aproximadamente ‘povo’ e ‘ação’. Dissemos que quem age na liturgia é, em primeiro lugar o Deus Trindade. Em resposta a essa ação a assembléia presta um culto de louvor e adoração a Deus.

Neste artigo vamos falar brevemente do ‘povo’. Mas que povo é esse? Como diz a carta de São Pedro; este é o Povo “escolhido de acordo com a presciência de Deus Pai e através da santificação do Espírito, para obedecerem a Jesus Cristo e serem purificados pelo seu sangue.” (1Pd 1, 2)

Deus escolheu um povo para ser herdeiro de sua aliança. Com Jesus a aliança estendeu-se até os confins da terra e foi oferecida a todas as pessoas. Na história do Povo de Israel a Igreja de Cristo já estava sendo preparada, e tudo se encaminha para a Nova e Eterna Aliança feita com a oferta da vida de Cristo, Cordeiro Imolado pela vida de muitos.

Este povo escolhido é convocado, é chamado para seguir Jesus, para encontrar a Salvação oferecida pelo Pai. Assim nos diz o catecismo da Igreja Católica no número 1097: “ Na liturgia da Nova Aliança, toda ação litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e dos Sacramentos é um encontro entre Cristo e a Igreja”. É o Senhor que vem ao encontro daqueles que Ele mesmo escolheu, daqueles que buscam lavar e alvejar suas vestes no sangue do Cordeiro.

Este povo torna-se uma Assembléia Litúrgica, uma Igreja Viva ao manifestar sua fé, ao reconhecer o Mistério Pascal de Cristo, os desígnios do Pai na História da Salvação e a força Santificadora do Espírito. Este povo torna-se Assembléia Litúrgica, sendo um Povo Sacerdotal que, convocado pela Palavra, que é o próprio Cristo, se reúne para celebrar o Mistério Pascal.

Outra marca deste povo é sua comunhão. São aqueles que buscam ser assíduos na comunhão fraterna. Esta comunhão nasce do Mistério da comunhão da Trindade Santa. Esta comunhão é expressa simbolicamente como a comunhão do Corpo de Cristo, em que cada membro, parte do corpo, coopera para o bem do todo. Cristo é a cabeça, sinalizada na Assembléia litúrgica por quem preside. É de Cristo que todo o corpo sacerdotal, a Assembléia Litúrgica, recebe toda dignidade e Ofício.

Para terminar, vamos citar novamente a primeira carta de Pedro, confirmando que este povo é o Povo Eleito, escolhido e chamado por Deus e que quis responder sim ao chamado. Um povo que fez opção de fé de configurar-se a Cristo.

“Aproximem-se do Senhor, a pedra viva rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. Do mesmo modo, vocês também, como pedras vivas, vão entrando na construção do templo espiritual, e formando um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo. Vocês, porém, são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para proclamar as obras maravilhosas daquele que chamou vocês das trevas para a sua luz maravilhosa. Vocês que antes não eram povo, agora são povo de Deus; vocês que não tinham alcançado misericórdia, mas agora alcançaram misericórdia.” (1Pd 2, 4-5;9-10”
Rezemos para terminar: “A vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, ó Virgem gloriosa e bendita.”  E cantemos:

Povo De Deus Foi Assim

Autor: L.: J. Thomaz Filho / M.: Frei Fabretti

1. Povo de Deus, foi assim: Deus cumpriu a palavra que diz: "Uma virgem irá conceber", e a visita de Deus me fez mãe! * Mãe do Senhor, nossa mãe, nós queremos contigo aprender * A humildade, a confiança total, e escutar o teu Filho que diz:

Senta comigo à minha mesa, * nutre a esperança, reúne os irmãos! * Planta meu reino, transforma a terra, * mais que coragem, tens minha mão!

2. Povo de Deus foi assim: nem montanha ou distância qualquer * Me impediu de servir e sorrir. Visitei com meu Deus. Fui irmã! * Mãe do Senhor, nossa mãe, nós queremos contigo aprender * Desapego, bondade, teu sim, e acolher o teu Filho que diz:

3. Povo de Deus, foi assim: meu menino cresceu e  entendeu, * Que a vontade do Pai conta mais, e a  visita foi Deus quem nos fez. * Mãe do Senhor, nosso mãe, nós queremos contigo aprender * A justiça, a  vontade do Pai, e entender o teu Filho que diz:


4. Povo de Deus, foi assim: da verdade jamais se  afastou. * Veio a morte e ficou nosso pão. Visitou-nos  e espera por nós! * Mãe do Senhor, nossa mãe, nós queremos contigo aprender * A verdade, a firmeza, o perdão, e seguir o teu Filho que diz:

Liturgia é ação de quem?

Neste segundo pequeno artigo vamos concentra-nos na liturgia como uma ação. De onde vem este sentido? Do próprio termo liturgia, pois, originou-se de duas palavras que significam, aproximadamente, ‘povo’, e ‘ação’. Vamos falar primeiramente da ação. No próximo artigo falaremos sobre o ‘povo’.
Estas pequenas indicações que daremos são muito importantes, pois, nos ajudam a entender quem age na liturgia. Em primeiro lugar Deus é quem age na liturgia. A ação humana é uma resposta à ação de Deus. É importante que isso fique bem claro para que ninguém pense que é o responsável pelo que acontece na liturgia; para que ninguém se ache ‘dono’ ou ‘mestre’ da liturgia.
Deus age na liturgia como Trindade Santa. A liturgia tem como principal característica a comunhão. Da comunhão das Pessoas da Santíssima Trindade é que vem a comunhão da assembléia reunida. Dos diversos modos de agir de cada pessoa da Santíssima Trindade na liturgia é que vem o modelo para os diversos ministérios e serviços dos membros do Corpo Místico de Cristo na Sagrada Liturgia.
A iniciativa na liturgia é de Deus Pai. Ele que tudo criou por amor, cuida de tudo e de todos, expressa seu carinho e proteção falando pela Sua Palavra Sagrada, oferecendo Seu Filho como Sacrifício, recebendo-O como Oferta Agradável, enviando o Espírito Santo, para consagrar, iluminar e santificar. É o Pai que convoca a assembléia, ele faz e confirma a Aliança com Seu Povo. É o Pai que envia cada uma, e cada um como sinal de sua presença no meio do mundo.
O Filho é quem instaurou a nova Aliança, tornando-se ao mesmo tempo Sacerdote, Altar e Cordeiro. Ele, enviado pelo Pai, assume a condição humana, para poder elevar a humanidade. A Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus são o centro de toda a Sagrada Liturgia. É o Filho Cabeça que preside seu Corpo Místico, assembléia reunida. Em cada sacramento da igreja, em suas ações litúrgicas específicas é o Filho quem rende graças e eleva as preces de louvor como Cabeça do seu Corpo que é a Igreja.
O Espírito Santo move a Igreja. Na liturgia, é Ele quem faz chegar a convocação de Deus para reunir a Assembléia. O Espírito é que move os corações dos fiéis para que sejam um só coração e uma só alma no culto de louvor e adoração a Deus. O Espírito confirma a unidade do Corpo Místico, a Igreja, com a Cabeça que é o Cristo. Enviado por Deus Pai, o Espírito vem em socorro da humanidade. É ele que vem santificar as oferendas, conferir ao óleo a força de unir ao Corpo de Cristo no batismo, de inspirar e iluminar a mente e o coração do fiel na Crisma, e de restaurar a saúde na Unção dos enfermos. O Espírito é que vem em socorro da fragilidade humana quando é ungida a mão de um novo presbítero dotando-o de ‘poder-para-servir’, trabalhar pelos irmãos; vem em socorro da fragilidade quando é ungida a cabeça de um novo Bispo, dotando-o da sabedoria necessária para guiar uma porção do Povo de Deus.
Deus é quem em primeiro lugar age na liturgia. Mas Ele deseja a colaboração de todos. Por isso, Ele espera a resposta generosa daqueles que formam o Corpo Místico de Cristo. Assim como a Trindade tem seus modos de agir particulares, além da ação em comum, também a Assembléia tem momentos de ação comum e ministerial.
Como Assembléia reunida age, conformando-se ao Cristo Cabeça. Deixando de lado as diferenças, assumindo a unidade e o cuidado mútuo. Em vários momentos das ações litúrgicas a assembléia expressa sua comunhão. Na tradução para o português a resposta da motivação do prefácio que segue expressa bem essa união e comunhão: quando quem preside motiva: “Corações ao alto.” A resposta da assembléia é de unidade e comunhão: “Nosso coração está em Deus”. Neste momento não é o coração de cada um que se volta a Deus, mas o coração da comunidade, assembléia reunida, tornando-se um só coração e uma só alma.
Dentro da comunhão do Corpo Místico de Cristo, cada membro desempenha seu papel para que a ação litúrgica seja uma resposta fiel ao chamado de Deus. E os ministérios são muitos e diversos, presidência, canto, acolhida, preparação, leitores, salmistas, acólitos...etc....

Terminamos confirmando que quem age na liturgia é em primeiro lugar Deus-Trindade. O ‘povo’ recebe o chamado, responde, dá graças a Deus, se compromete.


Liturgia, introdução à vivência litúrgica

Olá! Gostaria de convidar você para fazer uma caminhada comigo. Vamos conversar sobre a Sagrada Liturgia, e mais ainda, sobre sua vivência.
Nem sempre temos tempo para ler grandes textos disponibilizados na Internet. Por isso, resolvi escrever brevíssimos artigos. Conversaremos sobre a experiência do Mistério Pascal de Cristo na Liturgia.
Antes de iniciarmos, reze comigo a oração sobre as oferendas do segundo domingo comum:

“Concedei-nos, ó Deus, a graça de participar constantemente da eucaristia, pois, todas as vezes que celebramos este sacrifício, torna-se presente a nossa redenção. Por Cristo, nosso Senhor. Amém”
Como este é um artigo inicial, gostaria de tocar num assunto que penso ser essencial no que diz respeito ao aprofundamento da vivência da Sagrada Liturgia. Quando desperta o interesse por conhecer mais a Liturgia, as primeiras perguntas referem-se quase que exclusivamente a “como” é que se faz. Assim as perguntas são parecidas com: “isso é certo ou errado?”, “este gesto faz-se desta ou daquela forma?”, “tal coisa é litúrgica?”, “a cruz fica virada pro povo ou para o padre?”, “em tal hora faz-se a vênia ou genuflexão”; e por aí vai.
Este tipo de pergunta diz respeito apenas a como é que se faz algo na liturgia. Restringe-se ao que é superficial, aparente. Tais perguntas podem ser respondidas, em sua quase totalidade quando respondemos a outras perguntas tais como: “o que”, “quem”, “quando”...
Se queremos seguir um caminho que nos faça conhecedores da Sagrada Liturgia, a primeira questão não é como fazer, não é se isso é litúrgico ou não. A primeira coisa a se perguntar é “o que” é isso que se faz na liturgia. Qual o significado e o sentido da liturgia e do que se faz numa ação litúrgica.
A resposta geral para essa pergunta poderia ser: ‘a liturgia é a memória do Mistério Pascal de Cristo’. E essa resposta se desdobra em cada ação litúrgica, cada gesto, símbolo e sinal. Tudo na liturgia mostra o Sacrifício Pascal de Cristo e pode ser explicado por ele.
A primeira preocupação não deve ser se isso é certo ou errado na liturgia. O mais importante é experimentar e participar da celebração da memória do Mistério Pascal. Proponho a você um exercício de observação, nas próximas ações litúrgicas em que você for participar, procure perceber o que é celebrado, procure perceber o sentido e o significado de tudo o que é feito.

Uma segunda pergunta seria quem faz isso ou aquilo na liturgia. A partir dela é que vamos desenvolver o próximo artigo. Vamos partir das significado das palavras que juntas formaram a palavra Liturgia: ação e povo. Liturgia é Ato, Ação. Convido você a seguir caminho comigo, vamos subir ao cume e beber da fonte da vida cristã que é a Liturgia como diz o Concílio Vaticano II:

"A Liturgia é simultaneamente o cume para o qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua energia." SC 10