Neste segundo pequeno artigo vamos concentra-nos
na liturgia como uma ação. De onde vem este sentido? Do próprio termo liturgia,
pois, originou-se de duas palavras que significam, aproximadamente, ‘povo’, e ‘ação’.
Vamos falar primeiramente da ação. No próximo artigo falaremos sobre o ‘povo’.
Estas pequenas indicações que daremos
são muito importantes, pois, nos ajudam a entender quem age na liturgia. Em
primeiro lugar Deus é quem age na liturgia. A ação humana é uma resposta à ação
de Deus. É importante que isso fique bem claro para que ninguém pense que é o
responsável pelo que acontece na liturgia; para que ninguém se ache ‘dono’ ou ‘mestre’
da liturgia.
Deus age na liturgia como Trindade
Santa. A liturgia tem como principal característica a comunhão. Da comunhão das
Pessoas da Santíssima Trindade é que vem a comunhão da assembléia reunida. Dos
diversos modos de agir de cada pessoa da Santíssima Trindade na liturgia é que
vem o modelo para os diversos ministérios e serviços dos membros do Corpo
Místico de Cristo na Sagrada Liturgia.
A iniciativa na liturgia é de Deus Pai.
Ele que tudo criou por amor, cuida de tudo e de todos, expressa seu carinho e
proteção falando pela Sua Palavra Sagrada, oferecendo Seu Filho como
Sacrifício, recebendo-O como Oferta Agradável, enviando o Espírito Santo, para
consagrar, iluminar e santificar. É o Pai que convoca a assembléia, ele faz e
confirma a Aliança com Seu Povo. É o Pai que envia cada uma, e cada um como
sinal de sua presença no meio do mundo.
O Filho é quem instaurou a nova Aliança,
tornando-se ao mesmo tempo Sacerdote, Altar e Cordeiro. Ele, enviado pelo Pai,
assume a condição humana, para poder elevar a humanidade. A Vida, Paixão, Morte
e Ressurreição de Jesus são o centro de toda a Sagrada Liturgia. É o Filho
Cabeça que preside seu Corpo Místico, assembléia reunida. Em cada sacramento da
igreja, em suas ações litúrgicas específicas é o Filho quem rende graças e
eleva as preces de louvor como Cabeça do seu Corpo que é a Igreja.
O Espírito Santo move a Igreja. Na
liturgia, é Ele quem faz chegar a convocação de Deus para reunir a Assembléia.
O Espírito é que move os corações dos fiéis para que sejam um só coração e uma
só alma no culto de louvor e adoração a Deus. O Espírito confirma a unidade do
Corpo Místico, a Igreja, com a Cabeça que é o Cristo. Enviado por Deus Pai, o
Espírito vem em socorro da humanidade. É ele que vem santificar as oferendas,
conferir ao óleo a força de unir ao Corpo de Cristo no batismo, de inspirar e
iluminar a mente e o coração do fiel na Crisma, e de restaurar a saúde na Unção
dos enfermos. O Espírito é que vem em socorro da fragilidade humana quando é
ungida a mão de um novo presbítero dotando-o de ‘poder-para-servir’, trabalhar
pelos irmãos; vem em socorro da fragilidade quando é ungida a cabeça de um novo
Bispo, dotando-o da sabedoria necessária para guiar uma porção do Povo de Deus.
Deus é quem em primeiro lugar age na
liturgia. Mas Ele deseja a colaboração de todos. Por isso, Ele espera a
resposta generosa daqueles que formam o Corpo Místico de Cristo. Assim como a
Trindade tem seus modos de agir particulares, além da ação em comum, também a
Assembléia tem momentos de ação comum e ministerial.
Como Assembléia reunida age,
conformando-se ao Cristo Cabeça. Deixando de lado as diferenças, assumindo a
unidade e o cuidado mútuo. Em vários momentos das ações litúrgicas a assembléia
expressa sua comunhão. Na tradução para o português a resposta da motivação do
prefácio que segue expressa bem essa união e comunhão: quando quem preside
motiva: “Corações ao alto.” A resposta da assembléia é de unidade e comunhão: “Nosso
coração está em Deus”. Neste momento não é o coração de cada um que se volta a
Deus, mas o coração da comunidade, assembléia reunida, tornando-se um só
coração e uma só alma.
Dentro da comunhão do Corpo Místico de
Cristo, cada membro desempenha seu papel para que a ação litúrgica seja uma
resposta fiel ao chamado de Deus. E os ministérios são muitos e diversos,
presidência, canto, acolhida, preparação, leitores, salmistas, acólitos...etc....
Terminamos confirmando que quem age na
liturgia é em primeiro lugar Deus-Trindade. O ‘povo’ recebe o chamado,
responde, dá graças a Deus, se compromete.