Liturgia: espiritualidade do
cristão
“A liturgia é
a fonte primeira e indispensável mediante a qual os fiéis podem atingir o genuíno
Espírito Cristão.” É o que diz o número 14 da Sacrossanto Concilium. Esta frase
é a resposta a uma pergunta que se poderia fazer a qualquer membro da Igreja:
qual é a sua espiritualidade?
O modo de se
viver segundo o Espírito de Cristo dá-se pela experiência de fé na liturgia,
pois, é nela que o cristão ouve a Palavra, relê a própria vida à luz da
Palavra, alimenta-se da Eucaristia, exercita a caridade e a partilha e é
enviado de volta para a vida e a missão.
O que garante
uma espiritualidade litúrgica fiel ao Espírito Cristão? Uma liturgia viva e
encarnada, participativa, ativa e consciente, eclesial e comunitária, centrada
no Mistério Pascal de Cristo que é o centro do Projeto do Pai.
Uma liturgia
viva e encarnada é aquela que está baseada na realidade de quem celebra. Não é
um acessório, nem uma fuga, mas a celebração da vida. Uma liturgia morta é
aquela baseada apenas numa ritualidade estéril, apenas a repetição quase ‘mágica’
de um rito sem ligação com a vida concreta de quem celebra.
Liturgia viva e
encarnada é aquela que é continuação da vida, lugar para onde vai a vida; é
aquela de onde parte a vivência cristã. Cume para onde se direciona e fonte de
onde jorra a Graça de Deus.
Uma liturgia
participativa, ativa e consciente é aquela em que todos se reconhecem como
membros ativos em tudo o que acontece. Participar, tomar parte é mais do que
observar, assistir. É assumir uma parte do todo que é feito. Ser ativo na
liturgia significa tomar iniciativa, assumir o próprio batismo exercendo algum
ministério, estando em comunhão com o que acontece na ação litúrgica.
Estar consciente
é saber o que está acontecendo, saber-se membro vivo do Corpo de Cristo. Pressupõe
deixar a comodidade, a passividade e, principalmente, a indiferença.
Não há espírito
Cristão se não existe uma fé essencialmente eclesial e comunitária. A Fé cristã
surge exclusivamente da experiência de vida dentro da igreja, comunidade. Nos textos
bíblicos o exemplo mais conhecido é de Tomé, que só consegue perceber a
presença viva do Cristo Ressuscitado quando ele está reunido com a comunidade.
A
Espiritualidade Litúrgica é o oposto da espiritualdiade intimista,
subjetivista, imediatista. O espírito Cristão está onde dois ou mais estão
reunidos, ou seja, onde há comunidade, Igreja.
Enfim, o
centro da vivência espiritual cristã é o Mistério do Cristo que:
·
vive segundo a vontade do Pai, para dar
cumprimento a tudo o que ele anunciou pela Palavra revelada,
·
entrega-se como novo cordeiro pascal, que leva
sobre si toda e qualquer peso morrendo na cruz;
·
ressuscita, para trazer vida nova a todos
aqueles que desejam lavar suas vestes no sangue do cordeiro.
O Mistério de
Cristo, sua vida, paixão, morte e ressurreição, é o centro da espiritualidade
cristã. É o modelo para a vida e a existência de todos os cristãos.
Na liturgia
encontramos a fonte da espiritualidade genuinamente cristã. Celebrar está
intimamente ligado à vida humana. Significa olhar para traz e reconhecer tudo o
que aconteceu; olhar para frente e conseguir alimento e sustento para continuar
a caminhada. Na liturgia viva e encarnada, participativa, ativa e consciente,
eclesial e comunitária, vivemos o Mistério de Cristo e confirmamos nosso desejo
de que o Reino de Deus cresça cada vez mais na nossa vida.